Dados do Instituto Nacional da Criança (INAC) indicam que, de Janeiro a Maio do ano em curso, 573 crianças foram vítimas de trabalho infantil, sobretudo na exploração de inertes e em fazendas.
Em entrevista ao Jornal de Angola, o director do INAC explicou que do referido número não fazem parte crianças que comercializam produtos na via pública, lavadores de carros, nem as exploradas na pesca e comercialização de peixe e as que deambulam nas centralidades a pedir esmolas, sobretudo nas centralidades do Kilamba, Sequele e Huambo.
Paulo Kalesi fez saber que a área que mais preocupa o INAC, tendo em conta o grau de risco que as crianças correm, é a da agricultura, onde muitas crianças, em fazendas, manuseiam produtos químicos e instrumentos inapropriados para a sua idade.
Segundo o responsável do INAC, o sector da exploração de inertes também inquieta as instituições de defesa dos direitos da criança. A titulo de exemplo, Paulo Kalesi falou do que acontece no município da Jamba “Mineira”, província da Huíla, onde, além do garimpo de diamantes, encontram-se crianças no fabrico de blocos, trabalhos domésticos e na mendicidade, muitas vezes a mando de adultos, o que também preocupa o INAC.
As crianças do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos, são as mais expostas ao trabalho de garimpo e outros mais pesados, enquanto que, para o trabalho doméstico, a primazia recai para as meninas dos oito aos 14.
As províncias de Luanda, Bengo, Huíla, Benguela, Huambo, Cabinda e Lundas Norte e Sul são as que têm maior registo de casos de crianças envolvidas no trabalho infantil.
Paulo Kalesi fez saber que a área que mais preocupa o INAC, tendo em conta o grau de risco que as crianças correm, é a da agricultura, onde muitas crianças, em fazendas, manuseiam produtos químicos e instrumentos inapropriados para a sua idade.
Segundo o responsável do INAC, o sector da exploração de inertes também inquieta as instituições de defesa dos direitos da criança. A titulo de exemplo, Paulo Kalesi falou do que acontece no município da Jamba “Mineira”, província da Huíla, onde, além do garimpo de diamantes, encontram-se crianças no fabrico de blocos, trabalhos domésticos e na mendicidade, muitas vezes a mando de adultos, o que também preocupa o INAC.
As crianças do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos, são as mais expostas ao trabalho de garimpo e outros mais pesados, enquanto que, para o trabalho doméstico, a primazia recai para as meninas dos oito aos 14.
As províncias de Luanda, Bengo, Huíla, Benguela, Huambo, Cabinda e Lundas Norte e Sul são as que têm maior registo de casos de crianças envolvidas no trabalho infantil.
“Zunga” Díaria
No dia dedicado à reflexão em volta ao Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, que ontem se assinalou, algumas crianças não foram poupadas de terem o descanso que merecem. A suspensão das aulas, devido à pandemia da Covid-19, para algumas crianças tem sido motivo de alegria, pois têm mais tempo para brincar e descansar, mas para outras a realidade é diferente. Enquanto umas podem acordar até bem mais tarde, outras não têm esse “privilégio”, pois as vicissitudes da vida são desiguais.
Delfina Manuel tem 13 anos e desde a suspensão das aulas, Março último, passou a encarar os dias de outra forma. As horas que tinha para ficar dentro de uma sala de aula e aprender foram “transformados” em horas de “zunga”, no mercado do Asa Branca. As mãos que serviam para carregar a mochila com cadernos e livros escolares, agora carregam uma bacia, de cor cinzenta, com sacos plásticos, cheios de água fresca.
Corpo franzino, característico de crianças da sua idade, banheira à cabeça e três sacos com água à mão, Fina, como também é conhecida, “passeia” pelo principal mercado do município do Cazenga, gritando, com alguma astúcia: “água, água, é fresca”.
A pequena acorda às 6 horas, para ajudar a avó a colocar água fresca em sacos plásticos de um quilo, vulgarmente conhecido por embalagem. “Por dia podemos encher 20 ou 30 embalagens e dividimos nas banheiras e o resto fica na caixa térmica, com a minha avó no lugar (bancada)”, conta.
Estudante da 6ª classe, Delfina ainda não decidiu que profissão exercer quando terminar os estudos, está indecisa entre o professorado ou tornar-se numa agente bombeira. “Pensei em passar a ajudar a minha avó quando vi que ela ia na praça, todos os dias, sozinha, para vender e conseguir dinheiro para comprar comida”. Delfina diz que gosta de vender água fresca.
Milton Gonga Inácio, de apenas 12 anos, também não se livrou da exploração do trabalho infantil. Ele e mais um irmão, adulto, acordam às 5 horas para perfilarem-se em frente a uma padaria, localizada por trás da rua onde vivem, no bairro Tala-Hady, onde, diariamente, compram 50 pães distribuídos em duas bacias e às 7 horas têm de estar no mercado para vender.
Para ele, o ambiente de negócio agitado no mercado do Asa Branca não lhe intimida. Até Março do ano em curso, Milton frequentava a 4ª classe e diz: “um dia, quando acabar de estudar, quero ser polícia”.
Visivelmente alegre, por estar a falar para o Jornal de Angola, disse que antes da suspensão das aulas já fazia parte do “grupo de vendas”, composto pela mãe e mais dois irmãos.
O peso das garrafas térmicas, cheias com café e chá, não acanham a pequena Suzana Rodrigues, de 11 anos, estudante da 5ª classe, que diz gostar de ajudar a mãe na zunga. A futura professora disse que a Matemática é a sua disciplina preferida. Da mãe da pequena procurámos saber se tem algum conhecimento sobre o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil e, envergonhada, respondeu que “não”.
As quatro crianças interpeladas pelo Jornal de Angola têm algo em comum, são vítimas de exploração de trabalho infantil, um mal que assola muitas sociedades.
No dia dedicado à reflexão em volta ao Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, que ontem se assinalou, algumas crianças não foram poupadas de terem o descanso que merecem. A suspensão das aulas, devido à pandemia da Covid-19, para algumas crianças tem sido motivo de alegria, pois têm mais tempo para brincar e descansar, mas para outras a realidade é diferente. Enquanto umas podem acordar até bem mais tarde, outras não têm esse “privilégio”, pois as vicissitudes da vida são desiguais.
Delfina Manuel tem 13 anos e desde a suspensão das aulas, Março último, passou a encarar os dias de outra forma. As horas que tinha para ficar dentro de uma sala de aula e aprender foram “transformados” em horas de “zunga”, no mercado do Asa Branca. As mãos que serviam para carregar a mochila com cadernos e livros escolares, agora carregam uma bacia, de cor cinzenta, com sacos plásticos, cheios de água fresca.
Corpo franzino, característico de crianças da sua idade, banheira à cabeça e três sacos com água à mão, Fina, como também é conhecida, “passeia” pelo principal mercado do município do Cazenga, gritando, com alguma astúcia: “água, água, é fresca”.
A pequena acorda às 6 horas, para ajudar a avó a colocar água fresca em sacos plásticos de um quilo, vulgarmente conhecido por embalagem. “Por dia podemos encher 20 ou 30 embalagens e dividimos nas banheiras e o resto fica na caixa térmica, com a minha avó no lugar (bancada)”, conta.
Estudante da 6ª classe, Delfina ainda não decidiu que profissão exercer quando terminar os estudos, está indecisa entre o professorado ou tornar-se numa agente bombeira. “Pensei em passar a ajudar a minha avó quando vi que ela ia na praça, todos os dias, sozinha, para vender e conseguir dinheiro para comprar comida”. Delfina diz que gosta de vender água fresca.
Milton Gonga Inácio, de apenas 12 anos, também não se livrou da exploração do trabalho infantil. Ele e mais um irmão, adulto, acordam às 5 horas para perfilarem-se em frente a uma padaria, localizada por trás da rua onde vivem, no bairro Tala-Hady, onde, diariamente, compram 50 pães distribuídos em duas bacias e às 7 horas têm de estar no mercado para vender.
Para ele, o ambiente de negócio agitado no mercado do Asa Branca não lhe intimida. Até Março do ano em curso, Milton frequentava a 4ª classe e diz: “um dia, quando acabar de estudar, quero ser polícia”.
Visivelmente alegre, por estar a falar para o Jornal de Angola, disse que antes da suspensão das aulas já fazia parte do “grupo de vendas”, composto pela mãe e mais dois irmãos.
O peso das garrafas térmicas, cheias com café e chá, não acanham a pequena Suzana Rodrigues, de 11 anos, estudante da 5ª classe, que diz gostar de ajudar a mãe na zunga. A futura professora disse que a Matemática é a sua disciplina preferida. Da mãe da pequena procurámos saber se tem algum conhecimento sobre o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil e, envergonhada, respondeu que “não”.
As quatro crianças interpeladas pelo Jornal de Angola têm algo em comum, são vítimas de exploração de trabalho infantil, um mal que assola muitas sociedades.
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